Há um governo desgovernado algures. Pode ser o daqui mesmo, nunca se sabe. Um governo desgovernado é aquele que governa de maneira desgovernada, ou melhor, aquele governo que simula governar, mas no fundo desgoverna. Do ponto de vista prático, um governo com esta natureza não merece ostentar o nome de governo. É um desgoverno.
Por Agostinho Gonçalves
Professor, escritor e crítico literário
Trata-se, na verdade, de um grupo muito fechado, uma organização política (geralmente criminosa) constituída para desviar os caminhos da prosperidade, ou seja, criada para impedir o desenvolvimento do país. Não há bons governantes num governo desgovernado.
Os bons são exonerados prematuramente. Por quê? Porque são bons. Sim, só porque são bons. Num governo assim não há espaço para os bons, mas apenas para os maus governantes ou desgovernantes, se quisermos. Os maus sabem retroceder o crescimento, sabem vender belas imagens, embora sujas, sabem preencher os bolsos, satisfazer seus próprios anseios e egos, sabem bem ignorar a realidade daqueles a quem supostamente governam.
Não se constroem países fortes e prósperos com governos desgovernados. Facto. Tudo o que se constrói com este tipo de governo é um amontoado de leis e políticas aparentemente bonitas, mas inválidas, pois em nada beneficiam aqueles que realmente necessitam. Para que servem leis e políticas brilhantemente encantadoras, se ainda há crianças (com família) a mendigarem nas ruas, quando deviam estar na escola; gente a morrer de fome, gente a comer (no) lixo, gente com falta de pão, água e luz, gente com falta de tudo e mais alguma coisa?
Um governo desgovernado nunca está interessado em governar. Dá mais onde deve dar menos e dá menos onde deve dar mais. É uma pura contradição! Cria normas e projectos a seu favor, faz fraudes, manipulações, tudo para continuar a acabar com um país que ainda não começou. Só num governo desgovernado é que há uma Saúde doentia, uma Educação analfabeta, uma Justiça injusta, uma Força de Ordem desordenada. Um governo desgovernado diz haver liberdade, diz ser democrático e de direito, aberto e inclusivo. É este mesmo governo que depois manda prender, matar, aniquilar, massacrar, intimidar, oprimir. Não suporta críticas nem manifestações. Nunca se assume como culpado. Sempre limpa o rabo e atira as culpas sobre a oposição ou sobre aqueles a quem chamam de arruaceiros, anticonstitucionalistas, golpistas e outros tantos nomes pejorativos.
Um governo desgovernado nunca está próximo de quem (des)governa. Não há qualquer proximidade. De um lado vê-se um governo desgovernado a governar tranquilamente, como se a vida nunca mais fosse ter fim, e do outro lado vê-se um homem e uma mulher ou ainda um grupo exagerado de pessoas a reclamarem pelas mesmas makas, makas já antigas. Tantas políticas gizadas, tantas leis aprovadas, mas a fome e a miséria ainda engordam a magra vida do pacato cidadão, o lixo e as doenças estreitam cada vez mais uma amizade de longos tempos, o Kwanza cresce cada vez mais burro, a água potável e a luz eléctrica continuam a fintar o povo, a delinquência, a pobreza, o perigo, o caos continuam a rebentar no lado mais fraco da corda.
Afinal, o que se pode esperar de um governo desgovernado?
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